segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A viagem: uma introdução.

O Velho Chico carrega consigo uma magia indescritível do Rio da Integração Nacional.... ou será da discórdia? É o que estão cogitando Brasil adentro.
Ainda sim teimo em acreditar que o que o Brasil tem de mais precioso somos nós brasileiros. Impossível não se comover com a beleza da nossa gente, da cultura, da hospitalidade, do ritmo.

Esta viagem começou muito antes de ser concretizada. Fui convidada por meu amigo Marcelo em Setembro de 2007 para a realizar. Não sabia ainda se seria possível, pois queria fazer uma prova em Dezembro e não sabia a data. Por fim, o Marcelo conseguiu mais uma amiga que se animou com a proposta que, por sinal, também se chama Maíra. Como eu tinha realizado em julho do mesmo ano uma viagem de 2 semanas pela Bahia sozinha em busca da seca e de seu povo, estava muito inclinada a aceitar. Principalmente porque em minha viagem, peguei muita chuva e fui aconselhada a voltar no final/ início de ano para ver a seca. Decidi que iria com Maíra e Marcelo viajar. Seriam praticamente 2 meses saindo logo após o Natal e voltando após o carnaval.

No momento, eu era estagiária numa escola e estava me formando; ou seja, nada me impediria além de questões financeiras. Contudo, a idéia era realizar uma viagem econômica e fazermos “apresentações” de fantoches, pintura de rosto, malabaris e música ao longo do caminho para conseguirmos trocados. Também levaríamos fogareiro e comida para ir cozinhando e dormindo aonde desse. Barraca não foi uma opção, já que pensamos conseguir lugar na casa das pessoas ou um quarto barato.

Comecei a me animar muito e a pensar em unir o útil ao agradável, realizando “entrevistas” sobre a opinião da população local acerca da transposição do Velho Chico. O Marcelo inclusive levou um gravador, que acabou não sendo usado.

Compramos a passagem de volta para o dia 13/02 os três juntos e os planos tomaram forma. A Maíra estava tentando financiamento da USP para realizar a viagem como pesquisa de campo, pois o seu mestrado envolvia literatura de cordel e ela fez um levantamento de povoados que estavam pelo caminho e poderiam ser visitados para ela realizar entrevistas. Tudo parecia ir bem e marcamos um encontro no parque para decidirmos o que levaríamos para a viagem e quando iríamos. A Maíra começou a dizer que só poderia se juntar a nós no início de Janeiro, pois tinha muitos trabalhos para entregar até então. Eu e o Marcelo insistimos para ela tentar adiantar a ida e começar conosco. Entretanto, ela adiantou que não havia esta possibilidade. Comprei a passagem de ida até a Serra da Canastra para mim e para o Marcelo no dia 26/12.

Já em meados de dezembro, nova notícia: a Maíra começou a falar sobre as comunidades que ela tinha que visitar para o mestrado e muitas não ficavam no percurso do rio; inclusive muitas desviavam bastante do São Francisco. Ela queria que fixássemos uma data e cidade para nos encontrarmos durante a viagem e isso começou a me dar a impressão que tínhamos um problema. Devido a estes desencontros, terminamos não combinando um local ou data e não conseguimos mais conversar sobre isso. Enfim, a viagem seria feita a dois: eu e Marcelo.

A princípio não gostei muito desta mudança de planos, pois eu não era amiga do Marcelo a ponto de viajar quase 2 meses com ele sozinha. De qualquer forma, pensei no porquê de eu estar realizando a viagem: queria ir a região da seca nos tempos de seca; queria chegar a Olinda, cidade que meu pai um dia sonhou em morar; queria realizar uma viagem longa assim pelo interior do país. Também estava na época de finalização de um ciclo: estava me formando. Descobri, semanas antes disso tudo, que a viagem pelo rio São Francisco era uma viagem que meu avô materno sonhava em realizar quando vivo. Fiquei muito emocionada quando soube, pois o meu trabalho de conclusão de curso havia sido dedicado a este avô e a meu pai. Os dois foram responsáveis pela possibilidade de eu estudar na PUCSP postumamente. Eu terminava assim a faculdade graças aos dois e iniciava um caminho meu, que um dia também foi por eles vislumbrado.

Não tinha mais dúvidas, apenas a certeza: esta viagem seria inesquecível e eu teria muita proteção e energias boas. Quando eu senti esta segurança, quem me conhece sabe: eu fui. Eu já estava segura que mesmo se brigasse com meu companheiro de viagem, eu conseguiria seguir sozinha. Assim sendo, não hesitei e digo agora ao escrever o relato: a viagem foi maravilhosa.

Antes de começar o relato em si gostaria de pontuar que fiz alguns tópicos elucidativos de pontos importantes para quem um dia pensar em viajar de carona como foi esta viagem e tentar um esquema mais econômico.

O relato foi escrito devido a um compromisso meu comigo mesma e com o rio São Francisco. A experiência foi tão incrível e importante para mim que quis compartilhar com as pessoas que conheço e divulgar o que muitos falam Brasil adentro as beiras do rio. Além do compartilhar explícito neste texto - que se delineia muito mais de forma literata e reflexiva do que descritiva- também pontuo que é uma forma de manifestação pessoal a favor do Rio São Francisco e de sua população. Acredito que este compartilhar pode suscitar a curiosidade e a imaginação de cada pessoa acerca de si, de seu lugar no mundo e de seu lugar no próprio Brasil.

Desta forma, espero que quem se disponibilizar a ler este “pequenino”, também o perceba como uma forma de divulgar, de vozear o Velho Chico, que clama, grita por socorro de Minas a Alagoas/Sergipe.

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