segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A foz: ensaio de conclusão.

Finalmente navegamos pelo Velho Chico. Por todo o percurso, não o foi possível devido ao baixo nível do rio – falta de chuva. Sabem o que é ver nascer pequeno e grandioso se misturar ao mar? Nossa, me senti meio mãe neste fim.... Chamo a atenção para o fato do rio ter sua água salinizada já bem antes do encontro com o mar, assim como peixes marinhos.
Já na foz, subimos a duna mais alta para contemplar o encontro do rio com o mar e as dunas. Uma vista maravilhosa e única. Descemos e dei o derradeiro mergulho. Para fechar a viagem pelo rio, conseguimos uma carona de volta com o fiscal do Ibama da foz até Piaçabuçu. Ele nos levou por alguns canais do rio onde existem pequeniníssimas comunidades de pescadores. Parou nas dunas para observarmos os cajueiros e o encontro do rio com o mar novamente, nos mostrando seu “escritório” por entre as dunas.
Nas palavras dele, apenas alguns privilegiados adentram estes locais - e agradeci imensamente por ter sido um deles!!! Sem a menor dúvida, entrar pelos canais do rio foi a experiência mais marcante da viagem e uma das experiências mais marcantes da minha vida. Nestes canais, a mata ciliar está preservada e se observam mangues, caranguejos, árvores típicas, plantas e flores aquáticas. As pessoas? Vivendo em comunhão com o rio. COMUM – UNIÃO, COMO UM.
A sensação de comunhão nestes lugares foi indescritível. Quase como se entrássemos pelo túnel do tempo... comecei a pensar como teria sido a chegada dos portugueses a América. Como teriam se sentido os americanos? E os portugueses? Certamente este é um choque de tempos. Tudo respira neste lugar a um ritmo outro, muito aquém do meu. Pensamos como seria passar alguns dias numa comunidade daquelas e logo percebemos que seria quase como um estupro (tudo bem, exagerei...): é um choque de tempos, de vidas, de tudo! Entendi que o mais próximo que eu poderia estar era a distancia.
Muitas vezes para se estar próximo, é necessário distanciar, e este distanciamento é o maior ato de respeito que se pode ter, de amor. Muitas vezes, é na distancia que estamos próximos, no dar lugar a, e deixar ser, deixar estar.
Agora me distancio do Velho Chico tendo vivido a comunhão com o rio por um mês, quase 5 semanas e já tenho saudades.... mas estou segura desta ter sido uma experiência única na minha vida e que muitas outras virão.

Espero que tenham gostado, divulguem, visitem e se interessem pelo Rio São Francisco, afinal, nunca se sabe quando o sertão vai virar mar, ou o mar sertão... então digo: inventar, descobrir e redescobrir formas de se conviver com o que se tem, com o que se é, talvez seja a melhor solução!!!!!

Um comentário:

Ana disse...
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