segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Um pouco mais da Bahia e Pernambuco

13ª Juazeiro e Petrolina – Os caroneiros nos levaram para um “tour” perto de Juazeiro para vermos onde se localizava a famosa “Ilha do Rodeadouro”, point nos finais de semana. Já na cidade, nos deixaram próximos de onde seria o bairro da mulher que havia deixado o endereço com o Marcelo. Fomos a sua procura e encontramos a casa vazia. Caminhamos pela cidade que estava decorada para o pré-carnaval. Às margens do São Francisco paramos. Marcelo foi a procura de um lugar para ficarmos. Finalmente pousamos e a noite fomos ao Juafest. No dia seguinte, Petrolina.
Reparei que Petrolina é uma cidade mais abastada que Juazeiro. Visitamos alguns pontos e procuramos pela indicação de nosso amigo USPiano: Ilha do Massangano. Chegamos a falada ilha, embora contrariados pelos barqueiros que orientaram-nos a Ilha do Rodeadouro. Contudo, eu queria sossego, não badalação. Uma Ilha deserta com apenas algumas comunidades me pareceu muito mais atraente que uma Ilha cheia de música. Chegamos ao local e realmente estava deserto. Ilha do Massangano: a Ilha do Sol.
Pasma, esta é a palavra. A Ilha era simplesmente linda e o dia estava quente. Passamos a tarde inteira por lá. Enquanto o Marcelo tentava dormir com as formigas, eu nadei no São Francisco, rolei na areia e fiquei contemplando o rio do alto de uma árvore. Deixamos a Ilha do Sol com seu poente; e esta escolha quase nos rendeu ficarmos literalmente ilhados por lá: pulando, gritando e acenando com a canga que conseguimos ser apanhados pelo barqueiro.
Após, pegamos uma corona com um belga e, no meio da conversa, ele começou a falar que o povo brasileiro é egoísta e folgado, cada um por si. Quem me conhece, sabe que quieta eu não fiquei e comecei a argumentar falando de nossa questão histórico-cultural. Ele foi reticente dizendo que é uma questão de sangue índio.
Foi um dos meus grandes momentos de fúria. Entretanto, me contive; quase morri de raiva, mas tenho que admitir que realmente existe uma cultura do medo e do cada um por si. Não acredito que se pode descontextualizar as coisas e generalizar.
14ª Cabrobó – Quando chegamos a Cabrobó eu tinha a expectativa que conseguiríamos visitar o local onde será feita a transposição do São Francisco. Contudo, além dele ficar distante da cidade, o exército está de prontidão não só perto das obras, como na própria cidade. Ficamos apenas um dia e foi o suficiente para eu dizer que não gostei nada do que senti ou como me senti lá. Tudo está muito hostil e o exército me fez sentir como numa guerra silenciosa, onde a coerção desponta no silêncio. Não posso concordar com esta medida extrema. Quando cheguei a Sobradinho e Cabrobó, percebi o quanto é vital o rio nesta região semi-desértica. Não há limite entre céu cinzento e vegetação seca e não há verde senão dos cactos.
A cidade não é muito grande e possui uma feira de frutas e verduras muito vasta; é também local rodeado por inúmeras ilhotas no São Francisco, ilhas estas habitadas em muito por indígenas.
Faço aqui um desabafo: as vezes me inquieto com tamanha sofreguidão deste povo da seca e entendo o porquê desta ser a terra de Lampião e estas cidades serem tão perigosas. A lei do cangaço é a lei do facão. Muito comum as brigas familiares, mais parecidas com novelas, segundo um policial da região. Além disso, é chegar perto de alguém a contar causos e se abismar com a idéia que qualquer contrariedade pode resultar em morte. Esta é a lei: matar e morrer pela palavra.
Na seca as pessoas me pareceram mais desconfiadas. Contudo, não há quem negue um copo de água gelada em qualquer canto que passamos. Onde há gente, há oferta de água. Eles dão o que lhes falta, porque sabem que a água é o mínimo, além de ser também sua maior riqueza. Obviamente não só são flores... aliás, diria que são muito mais espinhos a flores! Enfim (...)
Conseguimos carona com um policial até o trevo de Floresta. Foi muito frutífera esta carona no sentido de informações e outro ponto de vista sobre o semi-árido. O policial nos contou sobre os treinamentos especiais para a região, criminalidade e brigas familiares. Inclusive soube que estávamos no centro do polígono da maconha. Incrível como esta é uma terra fértil para tal plantinha... curioso no mínimo... Bem, imaginem... sol das 13hs na cabeça no meio da caatinga. Ficamos com uma baita dor de cabeça pelo resto do dia. Finalmente conseguimos carona com uma van que iria até Paulo Afonso.
15ª Paulo Afonso– Quando passamos estas regiões, quase pensei ter uma miragem: perto já de Paulo Afonso existe a represa de Itaparica. Lá, o sertão é mar; e digo mais, mar azul e cristalino. Não há como não se emocionar diante da beleza do Velho Chico em cor azul, contrastando com o cinza do semi-árido. Dá para acreditar que a poucos quilômetros do leito do rio, as pessoas só tem água por meio de caminhão pipa? A Ilha de Paulo Afonso é uma pérola do sertão: lá, o mar doce do São Francisco abraça o sal do semi-árido. Fiquei simplesmente encantada com a cidade.
Fiz duas amizades em uma casinha de jogos. Conhecemos o famoso Caldinho de Paulo Afonso e é realmente gostoso. No dia seguinte, fomos a praia nos refrescarmos. Neste momento aconteceu um fato muito inusitado. Enquanto tentava dormir na areia, o Marcelo chama “Maíra”. Olho e surpresa: eis o terceiro elemento de nossa viagem caminhando na beira da água com outra menina.
Isto mesmo, a outra Maíra. Apesar de ainda inconformada com o sumiço repentino de nossa conterrânea, fiquei felicíssima de reencontrá-la. Ela nos apresentou sua companheira de viagem e conversamos sobre diversas coisas. Foi maravilhoso esclarecer algumas coisas e poder conversar com outras pessoas. No dia seguinte seguimos viagem e deixamos a ilha. A carona foi muito pertinente a região: caminhões pipa.

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