segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Organizando o cotidiano

Caronas: ao longo da viagem percebemos que o ideal era pegar as caronas pela manhã e em dias de semana. Passamos a preferir deixar o fim de semana para descanso em alguma cidade aprazível com a possibilidade de acordar mais tarde e não cozinhar. No início, fiquei com um pouco de vergonha de ficar pedindo carona, mas depois, me sentia totalmente a vontade exercitando a famosa "cara-de-pau". Algumas vezes quase parava o carro acenando com ar desesperado. Percebíamos já quem nos daria e quem não nos daria carona, acontecendo inclusive algumas previsões fantásticas nestas especulações. Além do horário e dia da semana bom para se pegar carona, também tem o local onde você pede: o ideal é ficar na saída da cidade, ou em algum trevo próximo, alguns metros depois da lombada. Desta forma, a pessoa pode te ver em baixa velocidade e se tem a possibilidade de dramatizar. Arrumávamos também as malas de modo a esconder parte das coisas, deixando o violão sempre a frente. As roupas também influenciam na carona.
Adorei ter podido viajar de carona e, obviamente, não aconselho mulheres sozinhas a o fazer, pois pode sair "muito caro". Mas foram elas que nos fizeram economizar (e muito!!) durante o percurso além de conhecer as pessoas em seu cotidiano.

Comida: Durante a viagem levamos duas sacolas para carregar as comidas fora da mochila, além de duas panelas, tupwares, talheres, caneca e o fogareiro. Se o dia era de carona, acabávamos fazendo um sanduíche para comer na estrada e procurávamos fazer comida a noite: sopa, macarrão, salada ou arroz com lentilha e soja. Sempre íamos ao supermercado e feiras comprar frutas e legumes. Geralmente não cozinhávamos no final de semana como uma recompensa; e outras dividíamos um PF (como assim dividiam o PF??) Isso mesmo, quem me conhece e sabe o quanto eu como, imagina que eu passava fome... mas na verdade, o calor era tão grande que não conseguia comer muito. Queríamos mais era tomar água, picolé ou então, o que realmente nos tornamos sócios: geladinho!!
O fogareiro, logo no início, ficou para emergências, já que o gás que o Marcelo levou foi se acabando. Desta forma, procurávamos negociar nos lugares onde dormíamos para utilizar o fogão, o que era uma tarefa bem árdua na maioria das vezes. Inclusive tiveram momentos que comemos muita salada para não precisarmos do fogão e equilibrar a alimentação. No fim da viagem eu não agüentava mais comer as mesmas coisas: arroz com lentilha, macarrão com molho de tomate, soja e cenoura. Ah, sempre que fazíamos macarrão, sobrava molho e a próxima refeição era?!!! Adivinhem... angú com molho!!!! As saladas também sempre com os mesmos legumes: repolho, tomate, cenoura, beterraba, pepino e pimentão. Outras hortaliças são muito difíceis de se encontrar, pois no interior, verdura (alface) é só uma vez por semana quando o caminhão traz e durante a semana só o que é mais resistente sobra... e naquele estado! Realmente um vegetariano sofreria por essas bandas.
O que encontramos de mais abundante para comer, de mais típico, foi o feijão de corda, arroz, bode, cuzcuz, muita manteiga, macarrão e farinha. Dentre as frutas, muita manga, seriguela, umbu, pitomba, jaca e caju.
No norte de Minas experimentei o piqui, que é uma espécie de fruta que as pessoas usam para "dar cheiro" principalmente no arroz. Ela é bem oleosa e laranja. Depois de usá-la para dar gosto na comida, as pessoas comem a massinha laranja em volta e deixam secando. Então, quebram-na e de dentro tiram uma castanha com a qual fazem farofa, paçoca.... Dizem que piqui é bom para memória: você fica arrotando o dito cujo o resto do dia!!! Olha, sei que eles usam tanto, tanto nesta região, que só de lembrar o gosto, já sinto uma indigestão.... ai, ai... mas há quem goste e até adore!!!

Divisão de Tarefas: Nos organizamos para realizar uma viagem justa: sempre tirávamos mais ou menos a mesma quantidade de dinheiro e, em cada momento um pagava as coisas e contabilizava. Assim, um ficava devendo para o outro e íamos alternando e quitando sucessiva e igualmente. Isso foi mais para facilitar e não ter que ficar na hora de pagar os dois tendo que trocar o dinheiro e dividir na hora. Foi um bom esquema no final.
Geralmente o Marcelo ia procurar o lugar para ficarmos quando chegávamos nas cidades enquanto eu cuidava das coisas. Contudo, em alguns momentos, eu também procurava.
Quanto a comida, quando era para ir para o fogão, geralmente eu ia. A louça alternávamos e normalmente os dois cortavam as verduras. Quando saíamos, geralmente eu levava a sacola com os lanches e água. Ambos pediam carona.

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